Thursday, October 13, 2011

Comunicado - Movimento Cívico pela Linha do Corgo

Comunicado
Movimento Cívico pela Linha do Corgo

Pedro Passos Coelho, cabeça de lista por Vila Real nas últimas eleições legislativas, ex Presidente da Assembleia Municipal de Vila Real, e actual Primeiro-Ministro de Portugal, defendeu em Maio do corrente ano, volvidos 2 anos e 2 meses sobre o abrupto encerramento do troço Régua – Vila Real da Linha do Corgo, o seguinte:

Quando a linha (do Corgo) foi encerrada à circulação, o Governo assumiu que era temporariamente. A verdade é que o tempo vai passando e o Governo faz o facto consumado de vir dizer agora, como estamos em grandes dificuldades financeiras, que já não se poder fazer a remodelação que estava prevista.

Ora isso não pode ser. Nós precisamos de ter investimento de mais proximidade que crie mais emprego e seja mais produtivo e investir menos em coisas onde se fizeram mal as contas e que vão provocar prejuízos de milhões e milhões de euros que nos vão custar muito a pagar nos próximos anos.

Em Outubro do mesmo ano, apenas 5 meses após estas palavras, um Ministro do seu executivo anuncia o encerramento definitivo da Linha do Corgo, sem apelo nem agravo, em nome de um equilíbrio de contas ferroviárias tentado sempre à custa do encerramento de vias-férreas como a do Corgo, e sempre com resultados desastrosos.

Sublinhamos que em 1992, último ano da hecatombe ferroviária promovida por Cavaco Silva, na qual foram encerrados 900 km de vias-férreas em apenas 5 anos, também à época apelidadas de “altamente deficitárias”, o défice da CP era de 178 milhões de euros, buraco o qual em 2008 já tinha aumentado 143% para 433 milhões de euros. No mesmo período de tempo, 11 mil ferroviários cessaram as suas funções, e os custos com administração cresceram 110%, enquanto a política de horários desajustados prosseguiu, juntamente com o encerramento de dezenas de estações e um investimento na manutenção da via cada vez menor.

Em 2010 a REFER deu-se ainda ao luxo de gastar 67 milhões de euros na Variante da Trofa, percurso inteiramente novo da Linha do Minho, com apenas 3 km de extensão (22 milhões de euros por quilómetro!!!), por inteiro capricho de um ex autarca da Trofa, dado este não desejar a Linha do Minho dentro desta localidade. O que sobeja para capricho de uns, daria para reabrir a Linha do Corgo entre a Régua e Vila Real, pelas contas da própria REFER, TRÊS VEZES!

A farsa de 30 anos de que só encerrando as ditas “vias secundárias” será possível equilibrar as contas das empresas públicas ferroviárias valeram a Portugal a incrível posição de único país da Europa Ocidental a perder passageiros nos últimos 20 anos, quando os horários, serviços e a própria manutenção destas mesmas vias se reduzem a mínimos e esquemas abusivos e insultuosos, raiando mesmo o criminosos.

Não podemos continuar a compactuar com esta abjecta aldrabice, que atirou Trás-os-Montes e Alto Douro quase em exclusivo para os braços mortais da rodovia, estrangulando o desenvolvimento regional e hipotecando o seu futuro, sem outro tipo de alternativas de escoamento de produtos e movimentação dos seus habitantes e visitantes, entre os quais se contam inúmeros cidadãos desfavorecidos, naquela que foi considerada no ano transacto a região mais pobre de toda a União Europeia. Com uma A24 portajada, uma viagem da Régua a Chaves (73 km em auto-estrada) só em portagens ficará por € 6,40 (uma viagem na A1 entre Alverca e Torres Novas, de 82 km de comprimento, custa em portagens € 5,65, tornando as portagens da A24 um autêntico saque aos trasmontanos), o que de comboio custaria à volta de € 8,20. No entanto, € 8,50 é o que um automóvel a gasolina gastará em combustível para ir da estação da Régua à de Chaves (consumo de 6,5 litros aos 100 km, gasolina a € 1,50 o litro), num percurso de 87 km (menos 9 km apenas do que o mesmo percurso pela Linha do Corgo), fazendo com que este trajecto custe no total e para este exemplo uns proibitivos € 14,15, contra € 8,20 de um bilhete inteiro em tarifa Regional para o comboio – em termos de passe mensal a diferença por viagem é ainda mais significativa.

Já os custos para o transporte de mercadorias, principalmente aquelas que enfrentarão pela Europa a fora tarifas ecológicas nas auto-estradas, e com o contínuo aumento do preço dos combustíveis, o sentido único promovido em Portugal para a rodovia será uma autêntica sentença de morte para várias empresas e uma bomba relógio para a Economia.

Desta forma, o MCLC convida todos os trasmontanos mas também todos os portugueses a unirem a sua voz de descontentamento contra o falacioso encerramento da Linha do Corgo! Aceda à PETIÇÃO PELA LINHA DO CORGO em http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N15067, ou através do site do MCLC em http://linhaferroviariadocorgo.wordpress.com/.

Todos juntos não seremos demais!

Vila Real, 12 de Outubro de 2011.

--
Movimento Cívico pela Linha do Corgo

--

Tuesday, October 11, 2011

Comunicado conjunto sobre o despacho que autoriza abate de milhares de sobreiros e azinheiras


 
O Governo, para viabilizar a construção da barragem da Foz do Tua, vem agora emitir um Despacho para autorização do abate de milhares de sobreiros e azinheiras no Vale do Tua, afectando de modo irremediável o património natural do Vale do Tua, um dos melhores conservados de Portugal.
A barragem estará situada dentro da Paisagem Cultural do Douro Vinhateiro, classificada como Património Mundial. Após um controverso processo de Avaliação de Impacte Ambiental, foi efectuada uma queixa à UNESCO, alertando para a desactivação da linha do Tua e para a afectação negativa da paisagem com a construção da barragem.
A publicação do Despacho n.º 13491/2011, de 10 de Outubro do Ministério da Economia e Emprego e do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, com a necessária Declaração de Imprescindível Utilidade Pública, vem viabilizar à EDP S.A., o abate de mais de 1104 sobreiros e 4134 azinheiras em povoamentos e núcleos de valor ecológico elevado no Vale do Tua.
Questionamos a consideração da inexistência de alternativas válidas para a construção do empreendimento, quando as mesmas não foram estudadas ao nível da Avaliação de Impacte Ambiental.
Lamentamos o avanço do processo de construção da barragem, a qual a ser construída, produzirá o equivalente apenas a 0,07% da energia eléctrica consumida em Portugal em 2006 (Dados da Rede Eléctrica Nacional). Mais uma vez andamos em contraciclo, construindo barragens irrelevantes quando os países mais avançados já iniciaram a demolição das barragens com pouca utilidade.
Num momento em que cada vez mais vozes se levantam contra o desperdício e o buraco económico que representa a construção de novas barragens, este despacho representa uma inaceitável subserviência à política de publicidade enganosa e facto consumado promovida pela EDP. É também um desrespeito vergonhoso às promessas feitas pelo Governo de reavaliar o programa nacional de barragens.
Lisboa, 11 de Outubro de 2011
QUERCUS, GEOTA, CAMPO ABERTO, ALDEIA, LPN, FAPAS,
COAGRET, MCLT, ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO VALE DO RIO TUA
Para mais informações contactar João Branco (Quercus –ANCN) 96 453 47 61; João Joanaz de Melo (GEOTA) 96 285 30 66

Monday, October 10, 2011

Vale do Tua. Até quando?


A harmoniosa convivência entre o rio e a linha férrea, ao longo de mais de um século, fazem do Vale do Tua um exemplo de como o progresso e a natureza podem conviver em perfeita simbiose. E é este património único, deixado pelos nossos antepassados, que está a ser destruído, com o aval de governantes e gente indiferente aos muitos gritos de protesto!
A Linha do Tua, que acompanha o rio Tua ao longo do vale, é uma obra de engenharia excepcional, perfeitamente integrada na dureza do local escarpado onde foi construída. Projectada em 1878, levou anos a ser construída e mereceu a visita de reis, rainhas, ministros, bispos, artistas, entre outras personalidades da história do país. Esta linha de caminho de ferro é considerada uma das mais belas linhas férreas de montanha da Europa.
Viajar na Linha do Tua é uma viagem no tempo, na história e na natureza; percorrer o Vale do Tua e uma paisagem magnífica, escarpas medonhas que pontuam aqui e ali o rio, que corre livre; as encostas metem respeito, mas a fauna e a flora continua a descobrir-se a cada momento, num simples desvio do olhar… A Linha do Tua é o melhor meio de acesso, único em muitos pontos, para se conhecer e viver o vale do Tua e Trás-os-Montes na sua plenitude, para o percorrer.
Lá no fundo, junto ao rio, o céu parece mais distante. Talvez porque estamos no paraíso. Aqui sente-se o pulsar do planeta! A natureza foi generosa com águas sulfurosas em ambas as margens do Tua, Carlão e São Lourenço…que privilégio o nosso! E somos tão pequenos perante esta imensidão que não nos resta senão contemplar a natureza e meditar.
Se os decisores políticos descessem a este pedaço de mundo e o sentissem, perceberiam a importância do Vale do Tua…para as suas gentes, para nós, e para tantos outros.
E como é incompreensível que esteja a ser construída uma barragem desta dimensão em pleno Douro Vinhateiro, Património da Humanidade, classificado pela UNESCO, entidade já formalmente informada pela Quercus A.N.C.N. Na Foz do rio Tua, estão a ser destruídos muros centenários, oliveiras, azinheiras, freixos, salgueiros, toda a vegetação ribeirinha do rio Tua, em plena época de nidificação de diversas espécies.
Esta barragem, a ser construída, afectará de modo irremediável o ecossistema do Vale do Tua, último reduto de várias espécies de flora e fauna (em termos de avifauna semelhante ao Douro Internacional e ao Sabor) já em termos de quirópteros (morcegos) como é admitido no EIA ficaram muitos refúgios por conhecer devido à sua inacessibilidade. Abriga ainda espécies protegidas de répteis e mamíferos segundo os respectivos livros vermelhos de Portugal.
De forma impune as máquinas avançam na tentativa de construírem um gigantesco muro de betão, para a tão propagandeada Barragem de Foz Tua.
Em causa está também o cumprimento da Directiva Quadro da Água, por destruição da qualidade da água. A eutrofização de uma tão grande massa de água parada será evidente; a consequente deterioração da qualidade da água levará a que sejam aplicadas sanções a Portugal, uma vez mais com custos para os contribuintes.
A navegabilidade do Douro está em risco, segundo comunicação do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, da foz do rio Tua para montante. De acordo com esta entidade, a verificar-se esta situação, estão seriamente comprometidos centenas de postos de trabalho relacionados directa ou indirectamente com o turismo fluvial e o turismo rural. E quem se responsabilizará no futuro, apesar dos alertas feitos?
A construção da Barragem de Foz Tua provocará a perda irremediável da Linha do Tua tal como a conhecemos; o comboio é o único transporte público para muitas populações ribeirinhas, e o garante da mobilidade na região com a sua ligação à Linha do Douro e aos maiores centros populacionais; património reconhecidamente potenciador de turismo e de desenvolvimento económico na região, a Linha do Tua juntamente com a Linha do Douro, permitiria além da travessia de Trás-os-Montes, a ligação a Puebla de Sanábria e à Alta Velocidade espanhola, a ligação de 5 importantes patrimónios classificados pela Unesco (Guimarães, Porto, Douro Vinhateiro, Côa e Salamanca). O turismo ferroviário e cultural são alavancadores do desenvolvimento e do crescimento populacional.
A Linha do Tua percorre Trás-os-Montes, serve as gentes locais, transporta milhares de visitantes de todos os cantos do mundo. O que pode ganhar um país quando destrói uma linha férrea centenária que atravessa toda uma região interior que não tem outra alternativa que não uma futura auto-estrada com elevadas portagens?
Por estas e muitas outras razões, estão em risco os últimos dois pilares de desenvolvimento da Região de Trás-os-Montes e Alto Douro: a Agricultura e o Turismo. Recorde-se que estas duas actividades não são deslocalizáveis e são de alto valor acrescentado.
Os impactes da construção desta barragem são irreversíveis e hipotecam para sempre o futuro de Trás-os-Montes, considerada já a sub-região mais pobre da Europa dos 27, conforme estudo publicado há alguns meses atrás pela Comissão Europeia.
No actual momento que vivemos, de crise económica constantemente lembrada, não há moralidade, responsabilidade e visão politica para pensar e rever o modelo de desenvolvimento que se quer para o país?
Há que diminuir o fosso entre quem vive no litoral e grandes centros urbanos e quem sobrevive num interior cada vez mais despido de tudo, até de identidade e originalidade. Porque nos tiram tudo. Até quando?
QUERCUS A.N.C.N – NÚCLEO REGIONAL DE VILA REAL E VISEU
Bairro da Araucária, Bloco G, Cave 7
5000-584 VILA REAL